Um símbolo que traduz histórias, expressa estilos e conecta gerações
O boné está no hype das tendências, e embora pareça um item simplista, ele é cheio de simbolismos e já foi até incluído numa exposição no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque por contribuir na construção da cultura do século XX e XXI.
Mas muito além de uma efêmera tendência, os bonés transcendem a sua funcionalidade de proteger do sol. Enquanto as coroas exalam poder, o quipá identifica os judeus e o barrete frígio simbolizou liberdade e o regime republicano durante a Revolução Francesa, o boné, por sua vez, também representa crenças, culturas e pessoas.

No século XIX, ele dominou o cenário esportivo e conquistou os EUA através do baseball. Logo, saiu dos campos e ganhou as ruas, tornando-se um ícone urbano. Mas o boné transcendeu os limites do esporte, e se conectou à publicidade e a subculturas.
No hip hop, por exemplo, ele se tornou um símbolo de resistência e orgulho cultural. Rappers usam o acessório para afirmar suas identidades e, ao mesmo tempo, endossar a cultura da ostentação e da ascensão social.
Nas periferias de São Paulo, os bonés de crochê surgiram como uma manifestação cultural, criada nos presídios. Eles eram (e são) produzidos por detentos, como uma forma de ocupação construtiva, uma ferramenta de resgate e reinserção social e também para reduzir a pena. Usados por MCs e personalidades do funk e do rap, eles carregam mensagens de resistência e identidade. Mesmo diante do preconceito e dos estereótipos negativos, eles conquistaram espaço em 4 edições da São Paulo Fashion Week, reafirmando o boné como um símbolo de empoderamento periférico e transformação social.

Além do estilo, o boné também é símbolo da classe trabalhadora, principalmente da que exerce funções mais braçais, e que, geralmente, não demanda um nível elevado de escolaridade, como agricultores, pedreiros e caminhoneiros. Aqui no Brasil, existe o MST, que à medida que simpatizantes do movimento passaram a usar o famoso boné vermelho, ficou ainda mais claro que o acessório é um símbolo de pertencimento e de posicionamento político.
Falando em política, como não lembrar do “make America great again” do Trump, e do “M” de Marçal? O uso do boné no contexto político, representa um estilo mais popular e menos formal, sugerindo uma proximidade com as massas. Ele é um acessório prático, associado a um estilo de vida mais simples, e pode transmitir a ideia de que esses políticos entendem as necessidades e preocupações do “cidadão comum”, endossando discursos populistas com mensagens diretas, fáceis de lembrar e focadas em criar um símbolo instantaneamente reconhecível, associado ao movimento político em questão.

Do mainstream ao underground, da política aos trabalhadores, de função ornamental a utilitária, os bonés são um símbolo multifacetado que reflete as dinâmicas sociais, culturais e políticas de cada época. Por isso, ele esteve exposto na mostra “Items: Is Fashion Modern?”, no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, como um, entre os 111 itens que moldaram a cultura moderna, testemunhando não apenas a influência da cultura esportiva, mas a capacidade do boné de se tornar um marco histórico.



